O Senado argentino rejeitou na madrugada desta quinta-feira (9) o projeto de lei que legalizaria o aborto no país. Após uma sessão de cerca de 16 horas, a liberação do aborto foi recusado no Senado por 38 votos contra, 31 a favor e duas abstenções.
Se aprovado, seria possível interromper bruscamente a gravidez durante as primeiras 14 semanas de gestação, onde o feto já estaria em pleno crescimento. O projeto previa também que o aborto fosse realizado em qualquer hospital ou clínica e obrigava o Estado a cobrir o custo do procedimento, dos medicamentos e dos tratamentos de apoio necessários.
Devido ao risco da aprovação, já que o projeto foi aprovado na Câmara, uma grande mobilização foi realizada no país. Mais de 650.000 pessoas marcharam no último sábado (4) pelas principais ruas de Buenos Aires para contra a legalização do aborto na Argentina. Os números foram estimados pela organização do movimento.
Mais de 650.000 pessoas marcharam pelas ruas de Buenos Aires contra a legalização do aborto. (Foto: AFP)
Evangélicos e católicos se reuniram em torno do palco onde houve momentos de louvor e orações pelas famílias, senadores, bebês que estão para nascer e mães que estão em conflito, de acordo com o site Clarín.
Também foram lidos documentos religiosos e civis que reivindicavam uma melhoria na lei de adoção que ampare a mãe “desde a concepção”, no caso das gestações que sejam resultado de estupros.
A Aliança Cristã das Igrejas Evangélicas da República Argentina (Aciera), organizadora da campanha “Vamos salvar duas vidas”, declarou em nota que “o aborto não é uma política de saúde porque não pretende curar, mas sim causar a morte”.
“Todo mundo fala sobre o aborto, mas os pastores evangélicos são quem lidam com a mulher que não quis a gravidez e fez o aborto”, disse o presidente da Aciera, Ruben Proiettie. “Ninguém fala sobre a síndrome pós-aborto”.
Proietti destacou que o papel das igrejas evangélicas é receber as mulheres grávidas, “mostrar o valor da vida e dar apoio total”. “Várias igrejas têm um sistema de acolhimento para a gravidez indesejada, todos com dinheiro das igrejas, sem nenhuma assistência social”, disse ele à rede argentina Todo Noticias.
Milhares protestaram contra o projeto na Argentina
A interrupção voluntária da gravidez é crime na Argentina, a não ser em casos de estupro e que ofereçam risco à vida da mãe. Nos demais casos, a prática é penalizada com até quatro anos de prisão para a mulher e para o médico.
Com a derrota no Senado, o projeto de legalização do aborto não poderá ser tratado novamente neste ano parlamentar. Uma nova proposta de legalização total só pode ser analisada pelos parlamentares a partir de março.
O pastor Osvaldo Carnaval, um dos promotores da marcha, deixou claro que os políticos que promoverem as leis de aborto não poderão mais contar com o apoio da igreja. “Precisamos ouvir a voz da vida nascer”, afirmou.
Assim como a Argentina, o Brasil também discute a interrupção da gravidez nesta semana em audiências públicas do STF, o tema é alvo de críticas, já que somente o parlamento poderia, via de regra, regulamentar sobre o assunto.